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MINI CURRÍCULO Coordenadora Pedagógica da Rede Municipal de São Paulo Graduada pela Universidade Paulista-UNIP, Pós Graduada em Docência do Ensino Superior, Educação Infantil e Gestão escolar - ISE Vera Cruz. EXPERIÊNCIAS PROFISSIONAIS Formadora da DRE de Itaquera Educação Infantil e Informática educativa Formadora no Ponto de Cultura FAFE-USP (Oficina-Documentação Pedagógica-Tecnologias a Favor da Educação) Formadora no programa ADI Magistério - formação de professores- Fundação Vanzoline Professora de educação infantil e ensino fundamental I e de oficinas de arte no ensino fundamental II- Escola Tecnica Walter Belian

sábado, 20 de agosto de 2011

DATAS COMEMORATIVAS

Datas Comemorativas na escola: Sim ou Não e Por que?


Quem nunca se deparou com um grupo de crianças com o rosto pintado e grandes orelhas de coelho e logo pensou:

_ É tempo de  Páscoa!



 Pois, que se fosse em meados de abril e no lugar das orelhas estivessem com cocares de penas, ou mesmo de cartolina na cabeça com certeza seria o Dia do Índio!

Há anos a escola vem pautando a organização de suas atividades, norteada pela “datas comemorativas”.   

 Esse é ainda um dos assuntos mais difíceis de ser tratado no cotidiano da escola e na discussão do currículo da educação infantil.

As unidades ainda sustentam muitas práticas de uma concepção que, de tão enraizada, é difícil superar.

Práticas que muitas vezes desrespeitam os valores culturais, religiosos, econômicos e éticos das crianças e suas famílias.

Uma “comemoração escolarizada” que pouco tem significado para as crianças ou ainda que acabam por estimular o consumismo infantil. 
O que nos tem feito continuar a nos sentir responsáveis pela comemoração de datas religiosas católicas mesmo sabendo que eles representam os dogmas de apenas parte das famílias e crianças e que, além de ferir a liberdade religiosa, ainda os exclui!?

 O que nos faz enfeitar nossas paredes com “Papais Noéis, árvores de natal e presentes” mesmo quando a realidade das nossas crianças envolve despejos, esgoto a céu aberto e pobreza?!





Como aceitar festas Juninas com fins lucrativos que justificam os “concursos de Miss e Mister Caipirinha”, ou que restringem a participação nas brincadeiras apenas àqueles que possam pagar por elas !?




Não se trata de negar o contexto cultural de uma data, seja ela qual for, uma vez que as comemorações estão presentes na cultura de qualquer povo, porém, acreditamos ser imprescindível refletir sobre qual a importância destas comemorações na composição do currículo da escola.

Cabe a cada unidade educacional problematizar a partir de seus saberes e fazeres e pensar e discutir novas formas de tratá-las pra que possam configurar-se enquanto importantes situações de aprendizagem e vivências para todos os envolvidos e que respeitem os valores culturais, religiosos, econômicos e éticos das crianças e suas famílias e os princípios da educação infantil.
Estas contribuições nos ajudam a provocar discussões às vezes doloridas, porém necessárias, num grupo que se disponha a crescer e resignificar suas práticas.

 Deixo aqui algumas citações interessantes sobre o assunto na voz de
 Luciana Esmeralda Ostetto:



    O planejamento baseado em datas comemorativas

Nessa perspectiva, o planejamento da prática cotidiana é direcionado pelo calendário. A programação é organizada considerando algumas datas, tidas como importantes do ponto de vista do adulto. Também aqui são listadas várias atividades, só que as mesmas se referem a uma data específica, a uma comemoração escolhida pelo calendário. Assim, ao longo do ano seriam realizada atividades referentes ao Carnaval, ao Dia de Tiradentes, ao Descobrimento do Brasil, ao Dia do Índio, à Páscoa, ao Dia do Trabalho, ao Dia das mães, e assim por diante, conforme as escolhas da instituição ou do educador, segundo o que ele julgue relevante para as crianças, ou conforme seja possível desdobrar em atividades para realizar com as crianças. Por exemplo:

Dia do Índio – atividades: música do índio e imitação, confecção do cocar do índio (com cartolina), dançar e cantar como índio, pintar desenho do índio, recortar figuras do índio. Qual o critério para a escolha das datas a serem trabalhadas em atividades pedagógicas? Que concepção de história perpassa tais escolhas? Poderíamos dizer que o trabalho com as datas comemorativas baseia-se numa história tomada como única e verdadeira: a história dos heróis, dos vencedores. História que, na verdade, privilegia uma visão ou concepção dominante em detrimento de tantas possíveis, ignorando e omitindo, na maioria das vezes, as diferentes facetas da realidade. Por isso, a escolha é sempre ideológica, pois algumas datas são comemoradas e outras não. Além disso, quem também lucra com as datas comemorativas é o comércio, que aproveita os “dias de “ para vender suas mercadorias, fazendo-nos crer que as pessoas e coisas só merecem ser lembradas uma vez por ano e não diariamente como de fato deveriam. A marca do trabalho com as datas comemorativas é a fragmentação dos conhecimentos, pois em determinada semana os professores trabalham o início da primavera, na outra já entram com o Dia da Criança, tudo isso trabalhado superficialmente e de forma descontextualizada. Na mesma direção, podemos perceber a elaboração ou proposição de “trabalhinhos” “lembrancinhas”, dancinhas, teatros geralmente destituídos de reflexão, por parte do educador, que em momento algum pára para pensar no significado disso tudo para as crianças, se está sendo “gratificante”, enriquecedor para elas. O educador acaba sendo um repetidor, pois todos os anos a mesma experiência se repete, uma vez que as datas se repetem. Talvez uma atividade aqui outra lá, um ou outro trabalhinho seja renovado, mas o pano de fundo é o mesmo. Em relação às implicações pedagógicas, essa perspectiva torna-se tediosa na medida em que é cumprida ano a ano, o que não amplia o repertório cultural da criança. Massifica e empobrece o conhecimento, além de menosprezar a capacidade da criança de ir além daquele conhecimento fragmentado e infantilizado. Quem disse que 1º de Maio é Dia do Trabalho? Há razões para se comemorar este fardo (???)? Em questão de data, não seria relevante falar sobre o dia do trabalhador, revelando o sujeito que está por trás da atividade produtiva? Por que é comemorado o Dia de Tiradentes e não se comemora o Dia de Zumbi, que aliás sequer consta do calendário comum? E a semana da Pátria? Que pátria é essa, de fome e miséria, desemprego e desmandos políticos? O que é o Brasil, o que é ser brasileiro, hoje? Além de todas essas considerações, é possível perceber no planejamento baseado em datas comemorativas a mesma problemática da modalidade anterior. Ou seja, o planejamento acaba sendo planejamento de atividades, a organização prevê listagem de atividades, mesmo que, aparentemente, pareça estar articulando atividades de um mesmo assunto ou tema, no caso a data escolhida para ser trabalhada. A articulação é aparente justamente porque não amplia o campo de conhecimento para as crianças, uma vez que as datas fecham-se em si mesmas, funcionando mais como pretexto para desenvolver esta ou aquela atividade ou habilidade. Se na perspectiva anterior a listagem era: modelagem com argila, recorte-colagem, pintura de desenho mimeografado, na perspectiva das datas comemorativas teríamos, por exemplo, no Dia do Índio, modelagem da “casa” do índio, com argila, recorte-colagem de figuras de índios ou do que eles comem, pintura de desenho de índio mimeografado. “Ah! Mas na sociedade todos falam, todos comemoram essas datas!” As crianças vêm prá creche falando... “É certo que as crianças trazem para a creche o que vivem, ouvem e vêem fora dela. Mas será argumento suficiente essa evidência? Qual o papel da instituição de educação infantil, repetir/reproduzir o que circula na sociedade em geral ou discutir e questionar os conteúdos e vivências que trazem as crianças? É apenas “respeitar” a realidade imediata da criança, ou ampliar sua visão de mundo? É discutir e negociar significados ou legitimar um sentido único, veiculado nas práticas comemorativas de consumo?

Planejamento na Educação infantil:mais que a atividade,a criança em foco.In: OSTETTO,Luciana Esmeralda.(Org.). Encontros e encantamentos na educação infantil ...